The School of Life

Já faz tempo que quero fazer um post sobre um dos lugares mais fantásticos que tive a chance de conhecer nos últimos anos. Tenho visto muita gente falar sobre a The School of Life – principalmente depois que o fundador, o filósofo suíço Alain de Botton (autor de muitos livros legais sobre questões cotidianas) veio ao Brasil e disse que vai abrir uma filial no Rio – então aproveitei o feriadinho para contar para vocês um pouco sobre a experiência que tive nessa que é, na minha humilde opinião, uma das iniciativas mais criativas e importantes deste início de século 21.

Ano passado eu casei e escolhi Londres para passar a lua de mel. Sei que é um destino bem pouco popular para uma lua de mel, mas é uma cidade que eu amo e meu marido ainda não conhecia, o que fez dele perfeito para a gente curtir nosso mês de férias “férias”. Aproveitei para fazer um curso rápido de Coolhunting na Saint Martins e conhecer um lugar que eu estava muito curiosa para ver, uma escola que ajuda as pessoas a viver melhor, a lidar com questões do dia a dia oferecendo ideias para se viver de bem com a vida. (Afinal, o que é a vida se não um monte dias grudados? ). Achei genial.

Muito tem se falado sobre novas maneiras de ensinar, sobre métodos mais humanos que preparem para a vida e não para passar no vestibluar ou conseguir um bom trabalho emprego, e este é um tema, assim como a psicologia, que me interessa bastante. E a The School of Life, fundada em 2008, é, se não a precursora, a mais famosa e imitada iniciativa nesse sentido.

Fonte: theschooloflife.com

Vou tentar contar como foi através de fotos que eu tirei nas duas vezes que estive lá: uma para conhecer e outra para fazer um curso. Não que eu tenha sido desencorajada a tirar fotos, mas, a partir do momento em que se desce a escada rumo à sala de aula, as fotos são proibidas (vocês já entenderão o porquê). Então, desde já, peço desculpas pela tremedeira das fotos tiradas na surdina.

A escola fica numa daquelas lojinhas típicas do centro de Londres, perto da estação Russell Square

E como controlar a emoção ao avistar essa placa de longe?

Simplicidade, conteúdo e detalhes: coolness no grau máximo

Além das aulas, eles promovem sermões de domingo que já são famosos, passeios, almoços & jantares – tudo com conteúdo relacionado à filosofia da escola

Livros e elementos da cultura londrina na decoração

Os livros são categorizados assim (todos à venda)

As paredes são murais de inspiração e envolvem o aluno holisticamente

Reportagem bem pertinente em tempos de superexposição e avatares aspiracionais. Tem um curso, aliás, que se chama “how to be cool”.

Timidez, família não-convencional, sedução, abandono, postergação: na parede do banheiro, temas tabus. (#quemnunca?)

Os cursos de julho e agosto: como achar um trabalho que você ame, como conversar melhor, como fazer a diferença, como ficar sozinho, como conhecer seu potencial…; por causa da agenda apertada de turista, escolhi “como equilibrar o trabalho e a vida pessoal”

No dia do curso rola um welcome happy hour com drinks e comidinhas…

… para os futuros colegas se socializarem e se soltarem um pouquinho.

A sala de aula fica no subsolo e é uma atração a parte: as paredes foram pintadas pela artista Charlotte Mann para reproduzir uma casa, com janelas, cabides, armários e a bagunça que todo mundo conhece.

O cabide

Tudo para deixar as pessoas à vontade, como se estivessem em casa

O teacher era um cara super preparado, psicológo com Ph.D em educação.

O curso de 3 horas custou 65 pounds – algo em torno de 200 reais. A conclusão que eu cheguei é que, deixando de lado o hype que hoje gira em torno da escola, as pessoas que estão lá não estão por curiosidade, como eu e uma colega jornalista australiana. Foi uma experiência que me fez pensar em como a sociedade pode nos engolir se não nos mantivermos fortes e fieis a nossos valores. Ao meu lado sentou uma advogada de uns 40 anos que estava vendo seu casamento e a relação com o filho irem para o brejo por causa das longas horas que passava no escritório. Até que ponto ir?, ela perguntava com a voz trêmula. De cortar o coração. Até hoje penso nela. Será que está feliz?

Não acredito que a intenção da School of Life seja salvar a vida das pessoas em 180 minutos, mas sim ser uma iniciativa que provoca um pensamento crítico e momentos de iluminação através da doce sensação do pertencimento. Na troca de experiências vemos que não estamos sós em nossas aflições e que podemos aprender – e muito – com os problemas dos outros.

Isto tudo me fez lembrar uma passagem do C.G. Jung que eu gosto muito:

“Nenhuma pessoa pode chegar a ser consciente de sua individualidade, a menos que se encontre íntima e responsavelmente relacionada com seus semelhantes, a pessoa não pode se isolar num destino egoísta quando estiver procurando encontrar-se a si mesma. Somente pode descobrir-se a si mesma quando se encontrar profunda e incondicionalmente relacionada com alguns e geralmente com muitos indivíduos com os quais terá a possibilidade de comparar-se e conhecer-se. Se alguém, num supremo egoísmo, retira-se para a solidão do monte Everest, poderia conhecer muitas coisas acerca das amenidades dessas alturas solitárias, mas nada sobre si mesmo; isto é, nada que já não sabia antes.”

E ele finaliza assim:

“Se nós pudéssemos nos comunicar com a população de outras estrelas, talvez encontrássemos meios de aprender algo essencial sobre nós mesmos.”

Beijos a vocês… que chegaram até aqui,

Andrea Greca
andrea@berlin.inf.br